domingo, 25 de julho de 2010

Governos atacam direito dos aposentados para enriquecer banqueiros

Para os capitalistas, o que vale um trabalhador? Será que sua família, que depende de sua renda para sustento, ou suas dívidas acumuladas abalam em alguma coisa o dono de uma empresa na hora da demissão?

Ao analisar a sociedade, percebe-se que a resposta é simples: não!

O trabalhador é visto como uma simples peça na enorme engrenagem do sistema capitalista. Não passa de um número facilmente substituível. Uma força de trabalho inesgotável, gerador de lucros e nada mais.
Além disso, basta que surja a primeira crise econômica que o trabalhador é o que mais sofre. As demissões em massa são um bom exemplo.

Se a visão do trabalhador ativo é essa, o que dizer então do aposentado? Este, que passou boa parte da vida contribuindo com a arrecadação do Estado, na hora de tirar seu tão sonhado e merecido descanso, se depara com uma realidade revoltante.
Os governos, que têm por obrigação "manter" o aposentado, vêem o mesmo como um fardo; um peso nas contas públicas, do qual precisam se livrar ou reduzir ao mínimo, para que uma boa parte dos recursos seja destinada à monopólios privados ou especuladores internacionais.

Vemos no mundo inteiro uma intensa luta dos governos em dificultar cada vez mais a concessão de aposentadorias, fazendo com que o trabalhador trabalhe mais, contribua mais, e receba menos

Na França, o presidente Nicolás Sarcozy anunciou no dia 17/06 desse ano um projeto de reforma na previdência, que tem como objetivo aumentar a idade mínima para a aposentadoria. Além disso, o tempo mínimo de serviço também deve aumentar, fazendo com que alguns franceses possam se aposentar apenas com 67 anos.
Na Grécia, a situação também é grave. O pacote ditado pelo FMI que prevê o aumento da idade de aposentadoria gerou revolta, incluindo 3 greves gerais no país inteiro!
Os países citados não são exemplos isolados. Este processo ocorre pela Europa inteira, em países como Alemanha, Espanha e Grã-Bretanha.

"No Brasil, desde o governo FHC os trabalhadores vêm sofrendo com ataques a seus direitos previdenciários. Em 1998, o Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional n° 20, que promoveu uma completa reforma na previdência, retirando direitos dos aposentados. Um ano depois, FHC completou seu ataque com a promulgação da lei que criou o fator previdenciário, uma fórmula complicada inventada para reduzir o valos dos benefícios para aqueles trabalhadores que optarem por se aposentar mais cedo." - Jornal A Verdade, 118.

Não podemos esquecer do governo petista, que na época era oposição e combateu a reforma previdenciária. Ao assumir o governo, nada se mudou para melhor. Muito pelo contrário. O que se viu em 2003 foi Lula levando ao Congresso seu próprio projeto de reforma da previdência, desta vez direcionado contra os direitos dos servidores públicos, que viram taxação absurda de 11% sobre suas aposentadorias e pensões.

Situações como estas não podem passar desapercebidas. Temos que continuar investigando e trocando informações. Aceitar de braços cruzados e continuar reclamando não resolverá nada.

Abraços

sábado, 24 de julho de 2010

Crise ambiental e progresso

A seguir, meu trabalho de Ciência, tecnologia e sociedade, com o título "Crise ambiental e Progresso".

A relação entre os dois foi estabelecida, seguindo a leitura dos textos Racionalização subversiva: tecnologia, poder e democracia de Andrey Feenberg e A sociedade em rede de Manuel Castells

Alunos:
Luan Guedes
Hedlla Andrade
Paula Mary
Karina Procópio

Universidade Federal do ABC
Julho de 2010

1 - Introdução

No dicionário, a palavra progresso é definida como melhoramento gradual das condições econômicas e culturais da humanidade, de uma nação ou comunidade. De forma mais sucinta e menos precisa, designa-se progresso como sendo a ação ou ato de progredir.

O progresso do homem ao longo da história está ligado diretamente ao progresso técnico e científico, que, segundo os positivistas, servem a toda humanidade e contribuem para o desenvolvimento desta, imprimindo maior racionalidade às ações humanas.

O aparecimento da pedra lascada, tido por alguns autores como consequência de ação humana, é um exemplo de aprimoramento da técnica. Já a tecnologia está além de um simples aprimoramento desse tipo, ou conjunto de várias técnicas. O que distingue a tecnologia da técnica é a base científica .(KRÜGER, 2001)

Tem-se a ciência como aliada à técnica principalmente a partir da segunda revolução industrial, onde os avanços com relação ao uso da eletricidade foram fundamentais. Hoje, vive-se a terceira revolução industrial, que ao contrário das anteriores, não se limita a produtos de pouco valor agregado. Isto significa que o produto final apresenta elevado valor, mesmo que tenha sido gasto pouca quantidade de matéria-prima.

Desde meados do século XIX, período em que se deu a segunda revolução industrial, combustíveis fósseis não renováveis são utilizados. Seu consumo foi crescente, decorrente do aumento das necessidades do homem. Além disso, a partir desse período, ações consideradas danosas para o meio ambiente se intensificaram.

Decorrente desse processo, catástrofes naturais se tornaram mais frequentes, e hoje o homem têm acesso à informações diárias referentes à queimadas, vazamentos de óleo no mar, depósito de lixo químico doméstico, industrial e hospitalar no solo sem qualquer cuidado, etc. Portanto, pode-se dizer que o homem vive em meio à uma crise ambiental.

A relação da crise ambiental com o progresso pode se mostrar não perceptível vez ou outra. Por tal motivo, neste trabalho se discutirá tal relação de maneira a deixá-la clara, utilizando além da bibliografia citada, os textos Racionalização Subversiva: Tecnologia, Poder e Democracia de Andrew Feenberg e A sociedade em rede de Manuel Castells.

2 - Progresso

O progresso não se limita somente ao crescimento econômico, nem apenas à evolução tecnológica, mas também à melhoria no bem-estar social. Este último pode até ser discutível. Entretanto, nota-se que a melhoria das condições econômicas e a ascensão da tecnologia com o tempo são incontestáveis. E, ao se falar em evolução, tanto na parte econômica quanto na tecnologia e na ciência, não se pode deixar de mencionar um dos grandes marcos na história: a revolução industrial.

A primeira etapa da revolução ocorreu por volta do século XVIII. Neste período, os trabalhadores passaram a trabalhar para alguém, perdendo portanto, o controle dos lucros obtidos e dos processos de produção. A mecanização da indústria pelas máquinas a vapor, aliada à invenção da locomotiva (que por sua vez foi muito importante para o transporte de pessoas e mercadorias), mudaram o modo de vida daquela época.

A segunda etapa se deu na segunda metade do século XIX. Desta vez, porém, o que teve papel fundamental foi o desenvolvimento da indústria química e elétrica, e o trabalho com petróleo e aço, já que não houve mudanças significativas no modo de produção. Pode-se dizer então que nesta fase da revolução industrial, houve apenas um aprimoramento das técnicas desenvolvidas na primeira fase.

A terceira e última fase da revolução industrial é a qual o ser humano vive atualmente. Na medida em que novos contextos as exigiam, as teorias organizacionais foram surgindo como novas alternativas. Começando com o fordismo, criado por Henry Ford. Esse sistema de produção revolucionou a indústria no início do século XX e permaneceu como modelo padrão até a década de 70, quando foi superado pelo toyotismo (ou japonização do fordismo).

Em 5 de julho de 1723, em Kirkcaldy na Escócia, nasce Adam Smith. As revoluções industriais trouxeram muitas dúvidas, e foi justamente o pensador escocês, considerado um dos fundadores das ciências econômicas, quem tentou responde-las. Além disso, sua posição liberal foi extremamente influente e decisiva para o pioneirismo da revolução industrial nos países britânicos.
Para ele, a posição individualista do ser humano era benéfica para todos, pois quando alguém trabalhava pensando em si mesmo, o fazia da melhor maneira possível. A busca pelo lucro era, portanto, um fator que beneficiaria à sociedade.

Entretanto, pode-se atribuir a crise ambiental atual ao descaso do ser humano com o meio ambiente em consequência da busca incessante pelo lucro, tão defendida por Adam Smith. Nota-se que a posição individualista, neste caso, não beneficia ninguém. Pelo contrário. A degradação do meio ambiente prejudica a todos, em custo do acúmulo de capital por parte de algumas empresas.

Chega-se então a um impasse. Pode-se falar de progresso como um todo, sendo que o bem-estar social se limita às pessoas com alto poder aquisitivo, em detrimento dos menos favorecidos economicamente, que sofrem cada vez mais com os efeitos das agressões ao meio ambiente? O que se pode afirmar é que o progresso econômico e tecnológico está inteiramente ligado à crise ambiental.

3 - Crise Ambiental

3.1 Um apanhado rápido sobre a crise ambiental

A crise ambiental é o conjunto de ações danosas que o homem vem causando ao longo de sua existência. Essas ações são realizadas para suprir suas necessidades da população, que aumentam a cada dia. São atitudes como utilização de agrotóxicos, o desmatamento desenfreado, e as queimadas. Leva-se em conta também que cada nação esta sempre lutando por seu desenvolvimento, o que acarreta na poluição, e na grande degradação do meio ambiente. Alem disso, a má educação da sociedade com o meio ambiente acarreta na distribuição de lixos químicos domésticos, industriais e hospitalares, diariamente depositados em locais inadequados e sem o devido tratamento para tais.

3.2 A origem da crise

A crise ambiental teve origem entre a Idade Média e Moderna, especialmente no período da Revolução Industrial, quando se começou a utilização exagerada de recursos naturais do meio ambiente em nome do capital, do lucro e do desenvolvimento. Em nome do ultimo, há a destruição de florestas, poluição dos rios, do solo, do ar, com a finalidade de gerar riqueza. Ou seja, o homem retira os recursos naturais para satisfazer alem de suas necessidades, e desejos, os interesses econômicos, fazendo da destruição algo cada vez maior.

3.3 Consequências da crise

São inúmeras as consequências da crise, como o aquecimento global, o efeito estufa, poluição do ar, alterações climáticas, entre outros. A natureza é capaz de reciclar e recuperar algumas delas, entretanto dependendo do grau e tipo de destruição os danos irreversíveis, o que preocupa a população para alguns recursos daqui há alguns anos.
O aquecimento global é o fenômeno causado pela liberação de gases dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, que forma uma camada em torno do planeta, impedindo que a radiação solar, que refletiria automaticamente na superfície em forma de calor, é o chamado efeito estufa, ou seja, dióxido de carbono jogado na natureza. Ele é o maior causador das últimas catástrofes que vem assustando o mundo. Dentre as várias causas que este fenômeno vem causando pode citar as alterações climáticas, o desequilíbrio do regime de chuvas, o derretimento acelerado das geleiras do Ártico. O desmatamento e a queimada de florestas e matas também colaboram para o processo. Os raios do Sol atingem diretamente o solo e irradiam calor na atmosfera. Como esta camada de poluentes dificulta a dispersão do calor, o resultado é o aumento da temperatura global.
O efeito estufa é a elevação da temperatura da Terra em razão do alto nível de liberação de dióxido de carbono (CO2), entre outros gases. É causado pelos gases provenientes da queima de combustíveis fósseis, que permitem que a radiação solar penetre na atmosfera, retendo grande parte dela e gerando aumento de temperatura. Este aumento acarreta no derretimento das geleiras polares e conseqüentemente com o aumento do nível do mar, que juntamente com a temperatura, causa freqüente furacões e tornados.
A poluição do ar gerada atualmente é resultado, principalmente, da queima de combustíveis fósseis como, por exemplo, carvão mineral e derivados do petróleo, como gasolina e diesel. A queima destes produtos lança uma grande quantidade de monóxido de carbono e dióxido de carbono na atmosfera. Ambos os combustíveis são responsáveis pela geração de energia que alimenta os setores industriais, elétricos e de transportes de grande parte das economias do mundo.

4 - Crise ambiental e Progresso - Análises

4.1 Crise e modernidade técnica

Observando a história, podemos buscar alguns fatos no passado, como a tragédia da Ilha dePáscoa, o desmatamento na Grécia antiga ou a perda de recursos biológicos da Europa Medieval, evidenciando que o processo de mudança ambiental e transformação da paisagem não é absolutamente um fenômeno de hoje.

O domínio da técnica cresce a passos largos desde o início da Idade Moderna. Na atualidade, convivemos com duas derivações desse contexto: as novas tecnologias de informação e a crise ambiental. A busca pelo conhecimento que permitiu a tecnologia da informação é a mesma que revolucionou os processos industriais geradores de externalidades negativas. Simultaneamente ao fato de convivermos com a possibilidade de um desastre ecológico, existe também a viabilidade de se aplicar e controlar os avanços da ciência e da tecnologia para construir um mundo mais sustentável - ambiental e sócio-economicamente -, pois as novas tecnologias de informação podem desempenhar importante papel para mitigar os impactos ambientais da produção industrial, ao estimular a produção de mais conhecimento e no desenvolvimento de tecnologias mais apropriadas. A técnica não deve ser alvo apenas de críticas negativas, mas de uma proposta positiva, que aborde critérios para fazer escolhas dentro do mundo técnico[1].

Pensando de modo ecológico, pode-se entender a crise ambiental como o desequilíbrio causado pelo crescimento sem controle das populações e, consequentemente, pelo aumento da necessidade de extração de recursos e bens naturais para abastecer estas grandes populações no determinado habitat. Mas o ambiente deve ser analisado além ecologia, é “complexidade do mundo; é um saber sobre as formas de apropriação do mundo e da natureza através das relações de poder que se inscrevem nas formas dominantes do conhecimento” (LEFF, 2002, 17).

Os sinais de ameaça da crise aparecem em problemas específicos, tais como o (a) desequilíbrio da produção de alimentos e do crescimento da população humana, (b) a redução da produtividade de vastas áreas de terra, (c) o mau uso e a poluição das águas, (d) a mudança gradual dos climas regionais e globais como resultado das atividades urbanas e das técnicas agrícolas, (e) a destruição de importantes espécies da fauna selvagem e a alteração das comunidades naturais e a (f) proliferação de organismos transmissores de doenças e epidemias. Estes problemas são sintomas de distúrbios de processos efetuados a nível de Biosfera como um todo, distúrbios esses capazes de reduzir a níveis mortais a qualidade e a produtividade do meio natural mundial[2].

A população humana atingiu um nível em que as exigências de recursos naturais requerem uma exploração maciça de todos os ambientes terrestres, fluviais e marítimos. A exploração de certos recursos alimentares tais como a pesca marítima (Borgstrom, 1970) está se aproximando de um nível máximo possível. Ao mesmo tempo, o homem mostra-se profundamente ignorante em relação aos fatores básicos responsáveis pela produção destes recursos e relativamente às consequências, a longo prazo, de seus métodos de exploração.

A tecnologia acarretou maiores problemas além dos da super exploração. As atividades agrícolas, industriais e urbanas tornaram-se agentes de padrões globais de poluição, alguns dos quais ameaçam os processos básicos da Biosfera. A tecnologia chegou a um ponto tal que novos desenvolvimentos podem levar a consequências prejudiciais, de caráter universal, antes que possam ser avaliados seus efeitos. (Commoner, 1966).

A ciência e a tecnologia são as instituições centrais da reforma ecológica; elas são as principais instituições de uma economia ecologizada. Enquanto uma das principais causadoras da crise ambiental, a ciência e a tecnologia têm suas trajetórias alteradas: são redirecionadas para o desenvolvimento de processos produtivos e produtos ambientalmente mais sadios e que proporcionem a desmaterialização da produção, ou a desconexão ente fluxos materiais e fluxos econômicos[3].

4.1.1 Crise ambiental e progresso segundo os conceitos de Andrew Feenberg.

Uma das grandes preocupações de parte da filosofia e da sociologia, atualmente, é o desenvolvimento de uma teoria crítica da tecnologia que abranja as condições contemporâneas. Tal preocupação é tributária das correntes dos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia que proliferaram a partir dos anos 1980 [4]. Sendo assim, pesquisas atuais a respeito dessa nova teoria concentram-se em explicar onde e como estão fincadas as raízes sociais do conhecimento e da tecnologia, objetos pertencentes a um mundo atual centrado no poder, no mercado e na democracia.

A obra de Andrew Feenberg, ao incorporar criticamente a contribuição dos principais pesquisadores contemporâneos dos estudos sociais da ciência e da tecnologia à discussão que havia ficado estagnada nos anos de 1970, quando pensadores marxistas apontavam as implicações da adoção de uma tecnologia capitalista, é imprescindível para aqueles que percebem a necessidade de construir outro futuro.

O texto “Racionalização Subversiva: Tecnologia, Poder e Democracia” é introduzido por Feenberg de forma a citar os limites da teoria democrática, na qual a tecnologia, segundo o autor, é uma das maiores fontes de poder na sociedade moderna e “quando as decisões que afetam nosso dia-a-dia são discutidas, a democracia política é inteiramente obscurecida pelo enorme poder exercido pelos senhores dos sistemas técnicos: líderes de corporações, militares e associações profissionais de grupos como médicos e engenheiros”[5].

Este conceito defendido por Feenberg, de que a teoria crítica depende da participação democrática, tem como principal empecilho o fato de a tecnologia adotada atualmente pela sociedade ter suas bases formadas pelo modelo capitalista vivenciado por todo o mundo. A seguir, apresentaremos um trecho de uma entrevista realizada no Centro Cultural de Belém do Pará, em 27 de janeiro, durante o I Fórum Mundial Ciência e Democracia, realizado como parte das atividades do Fórum Social Mundial 2009 (Traduzida por Sylvia Gemignani Garcia), em que o próprio autor expõe sua idéia a respeito dessa democratização:

A teoria crítica depende da participação democrática. Como você imagina essa participação hoje em dia?

“Bem, precisamos evitar esquemas formalistas. Nós não vamos pedir à população que vote no tipo de automóvel que deseja para o ano que vem. Penso que a maior parte da participação é informal. Parte dela é, com certeza, legalista, para forçar as pessoas a obedecer a lei ou a pagar pelos danos que fizeram. Há outro âmbito de participação pública, que toma a forma de movimentos de protesto e controvérsias na esfera pública. Existem, ainda, consultas organizadas pelos governos, que eles chamam 'júris de cidadãos' ['citizens juries'] em certos países. Na Holanda e na Noruega, por exemplo, reúnem-se pequenos grupos de cidadãos com especialistas, para que eles sejam informados sobre tecnologias específicas. Há muitas modalidades de intervenção e penso que todas juntas estão criando uma esfera pública técnica, na qual a tecnologia torna-se mais um tema sobre o qual as pessoas falam no discurso político. Não há mais um Deus, a quem se deve obedecer” [6].

Segundo Feenberg, alguns teóricos afirmam que a tecnologia não é a responsável pela concentração do poder industrial e que esta questão está relacionada com a vitória do capitalismo e das elites, historicamente falando. Mesmo concordando que a tecnologia moderna tem contribuído para a administração autoritária, esses teóricos dizem que em outro contexto social, a tecnologia poderia ser operacionalizada de forma democrática.

Afim de que a sociedade moderna se enquadre na participação democrática sugerida por Feenberg, serão necessárias tanto mudanças técnicas radicais quanto mudanças políticas. E para afirmar as potencialidades democráticas da indústria moderna será necessário desafiar as premissas do seu determinismo, conhecidas como tese do progresso unilinear e a tese de determinação pela base.

“O determinismo se baseia na suposição de que as tecnologias têm uma lógica funcional autônoma que pode ser explicada sem se fazer referência à sociedade. Presumivelmente a tecnologia é só social apenas em relação ao propósito ao qual serve, e propósitos estão na mente do observador” [5].

A tese do progresso unilinear baseia-se na idéia de que o progresso técnico parece seguir um curso fixo de configurações menos avançadas para as mais avançadas. Sendo assim, o progresso técnico procede a partir de níveis mais baixos de desenvolvimento para os mais altos e este desenvolvimento segue uma única sucessão de fases necessárias. Entretanto, uma análise mais aprofundada do tema nos permite concluir que o desenvolvimento tecnológico não é unilinear, pois se ramifica em muitas direções e poderia alcançar níveis geralmente mais altos ao longo de mais de um caminho diferente.

Já a tese de determinação pela base afirma que as instituições sociais têm de se adaptar aos "imperativos” da base tecnológica. Entretanto, novamente analisando, percebe-se que o desenvolvimento tecnológico não é determinante para a sociedade mas é sobredeterminado por fatores técnicos e sociais.

Sendo assim, as diferenças do modo como os grupos sociais interpretam e usam objetos técnicos é que vai determinar seu destino e suas melhorias. Dessa forma, percebemos a importância em se estudar a situação sócio-política dos grupos sociais, para assim, entender o desenvolvimento tecnológico.

Segundo o autor, “As tecnologias são selecionadas a partir destes interesses entre muitas possíveis configurações. Na orientação do processo de seleção estão códigos sociais estabelecidos pelas lutas culturais e políticas que definem o horizonte sob o qual a tecnologia atuará”[5].

Portanto, as tecnologias são perfeitamente adaptadas às mudanças sociais e o “código técnico” do objeto é responsável pela mediação do processo de escolha das possibilidades apresentadas para o desenvolvimento.

A teoria proposta por Feenberg sugere a possibilidade de revolucionar o conceito de tecnologia. Contudo, os críticos distópicos argumentam que apenas pelo fato de se procurar eficiência ou efetividade técnica já se faz uma violência inadmissível aos seres humanos e à natureza, destruindo a integridade de tudo isso. Cada vez mais esta crítica ganha forças, partindo da observação da realidade e relacionando-a com os perigos cada vez mais próximos com que a tecnologia moderna ameaça o mundo de hoje.

Entretanto, a forma como a tecnologia é aplicada depende do modo em que as demandas contemporâneas são interpretadas. Como por exemplo: sabe-se da necessidade de se fazer uma tecnologia que respeite o meio ambiente, assim como diversas outras necessidades sociais demandam um avanço tecnológico capaz de colaborar economicamente e, principalmente, socialmente, sem agredir os princípios da vida em sociedade.

A definição de tecnologia presente em nossa sociedade atual corresponde a um meio de obtenção de lucro e poder, fazendo com que a preocupação ambiental se torne um tipo de resistência à forma de tecnologia desenvolvida. Para que essa concepção seja mudada, faz-se necessário compreender a tecnologia de modo muito mais abrangente, baseada na responsabilidade para os contextos humanos e naturais da ação técnica.

Dessa forma, o progresso advindo de ações tecnológicas, quando democratizado, não se atém apenas as imposições do mundo material capitalista, e sim a trazer benefícios essenciais demandados pela sociedade de forma a pensar em qual a melhor maneira que pode ser introduzido sem ultrapassar os limites culturais e ambientais, que são fundamentais para que haja harmonia entre o homem e a natureza.

A crise ambiental vivida atualmente é um reflexo deste progresso centrado nas mãos dos senhores do sistema técnico, que ainda desenvolvem a tecnologia sem estudar intensamente os impactos sociais e ambientais que serão causados, ou até mesmo sabem as conseqüências de sua implementação, mas estão profundamente envolvidos com uma questão muito mais econômica do que humanitária, herdada da necessidade compulsiva por avanços tecnológicos presente no sistema capitalista vivenciado pelo mundo atual.

Agora, conhecendo a teoria proposta por Feenberg, será que é possível reverter este quadro de desastres que é acentuado a cada dia? Será que se as pessoas tivessem consciência que seu desejo por bens não fundamentais à vida o meio ambiente não seria melhor preservado? Será que reivindicando a democracia, o progresso traria não só benefícios lucrativos? Não se pode afirmar nada, pois sua teoria depende do entendimento e do objetivo do ser individual para que venha a se concretizar em benefício coletivo, da sociedade como um todo. O que se pode dizer é que sua obra fornece um guia seguro para pesquisadores e fazedores de política que, no mundo inteiro, buscam uma visão crítica sobre a tecnociência que contribua para evitar as catástrofes sociais, econômicas e ambientais que afligem nossa civilização.

5 - Referências Bibliográficas

[1]Oliveira, Ricardo Devides. CRISE AMBIENTAL COMO CRISE DA RACIONALIDADE CIENTÍFICA MODERNA: UMA REFLEXÃO FILOSÓFICA PARA UM OLHAR HOLÍSTICO À CIÊNCIA GEOGRÁFICA. Editora da UNESP, 2009. São Paulo


[2]http://www.photographia.com.br/texto1.htm último acesso em 21/7/2010

[3]Borinelli, Benilson. Instituições e Crise Ambiental: Contribuições da Sociologia Ambiental.

Artigo disponivel em http://www.ssrevista.uel.br/c-v9n2_benilson.htm - último acesso em 21/7/2010

[4]http://www.sfu.ca/~andrewf/coletanea.pdf – último acesso em 19/7/2010


[5]FEENBERG, Andrew. Racionalização Subversiva: Tecnologia, Poder e Democracia.


[6]http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-31662009000100009&script=sci_arttext – último acesso em 19/7/2010