quinta-feira, 17 de junho de 2010

Quem irá lucrar com a Copa do mundo?

A copa do mundo deste ano está sendo realizada na África do Sul. O país é considerado o mais desenvolvido do continente africano, e possui inúmeras riquezas naturais, como ouro, platina e diamante. Mesmo assim, metade dos quase 50 milhões de habitantes vivem abaixo da linha da pobreza, 40% da população economicamente ativa se encontra desempregada, e o número de mortes por AIDS e portadores de HIV atinge índices alarmantes.

Mas, ao invés de utilizar dos recursos públicos para atenuar o sofrimento do povo, o governo da África do Sul resolveu dar ouvidos à FIFA e sediar a Copa do Mundo, acreditando que o país atrairia muito dinheiro e investimento estrangeiro. O governo então se endividou, e utilizou os recursos do povo para construção de estádios e infraestrutura para o Mundial.

No total, planejava-se gastar com a Copa 2,15 bilhões de dólares. Porém, o montante já ultrapassou os 8 bilhões.

Com 8 bilhões de dólares, quantas vidas poderiam ser preservadas?

Mas a FIFA não se importa com isso. O lucro da FIFA com a Copa do mundo, referente ao investimento dos patrocinadores e direitos de transmissão somam 4,27 bilhões de dólares!
Para proteger seus patrocinadores (Coca-Cola, Adidas, Castrol, Visa e Sony), a FIFA exigiu que o governo reprimisse duramente qualquer pessoa que tentasse comercializar produtos que não tivessem sua autorização oficial. Resultado: Trabalhadores que tinham suas barracas montadas há anos e dependiam da venda de seus produtos para sobreviver, foram expulsos por fiscais da FIFA e estão proibidos de trabalhar durante a Copa.

Na realidade, a Copa do mundo só fez com que a desigualdade se agravasse. A prova disso é Johannesburgo. Os investimentos do governo se concentram nos bairros em que a população é rica. Nesses locais foi construído metro novo, colocadas novas linhas de ônibus, praças e melhorada as redes de água e energia.

Outra constante no futebol atual é a comercialização de jogadores à preços exorbitantes. O jogador é tratado como mercadoria, e os clubes como fontes de renda altamente lucrativas. É por isso que vemos cada vez mais a presença de grandes investidores nos clubes de futebol, o que tem motivado inclusive, à união de torcedores rivais em alguns países contra a privatização de seus clubes. Na Inglaterra, torcedores do Manchester United e do Liverpool se uniram para tal, exibindo cartazes com as mensagens "Man Utd pelo amor, não pelo dinheiro" e "Fora Gillet e Hicks " (donos do liverpool).

Segundo o jornalista e geógrafo Paulo Favero, "entidades internacionais reguladores do esporte, como a FIFA e a CONMEBOL, organizam o futebol sempre visando o lucro. O jogador vira uma mercadoria que pode ser comprada e vendida em qualquer lugar do mundo, independente das leis trabalhistas de qualquer país. Nenhum outro profissional tem esse acesso tão facilitado".

Diante de tantos negócios e lucros, os trabalhadores sul-africanos perceberam cedo que para conquistar seus direitos, tinham que se organizar e ir à luta. No ano passado, diversos operários realizaram greves e pararam por diversas vezes a construção dos estádios para a Copa exigindo aumento nos salários. E não foi só isso. Em praticamente todos os setores houve paralisações por parte dos trabalhadores.
Tais greves surpreenderam a FIFA e seus patrocinadores, que não têm mais certeza com relação aos lucros nessa Copa. Porém, de uma coisa podem ter certeza: o combativo povo sul-africano, o mesmo que expulsou os ingleses de seu país, conquistou a independência e lutou contra o apartheid, está novamente de pé. Desta vez, lutando contra os causadores do apartheid social, a classe capitalista.

Texto baseado no texto do jornal "A verdade", escrito por Lula Falcão, membro do comitê central do PCR